Sugerido por Gunter Zibell - SP
Da Exame
São Paulo - “Excluir minorias sexuais não é só
uma tragédia humana, mas também um custo econômico que as sociedades impõem
para si mesmas.”
http://jornalggn.com.br
A frase é do presidente do Banco
Mundial, o sul-coreano Jim Yong Kim, e serviu como ponto de partida
para o evento "O custo econômico da homofobia", realizado hoje na
sede da instituição em Washington DC, nos Estados Unidos.
Especialistas e jornalistas debateram os resultados
preliminares de um estudo que desenvolveu e testou um modelo econômico para
medir quanto as sociedades perdem com a exclusão social dos homossexuais e
transgêneros.
No caso da Índia,
onde a Suprema Corte decidiu recentemente pela criminalização do sexo entre
homossexuais, o prejuízo fica entre 0,1% e 1,7% do PIB -
ou algo entre US$ 1,25 e US$ 7,7 bilhões.
A estimativa varia muito porque é difícil conseguir
dados sólidos sobre o real tamanho e situação das minorias sexuais: "A
invisibilidade é uma estratégia de sobrevivência", diz M.V. Lee Badgett, a
professora de economia da Universidade de Massachusetts que apresentou os
números.
A falta de estatísticas foi citada como um problema
central por todos os participantes e foi o foco da apresentação de Qing Wu,
analista econômico do Google, que apresentou formas inusitadas de medir
a prevalência da homossexualidade - como os números de busca por material
pornográfico gay ou de perguntas como "meu marido é gay?".
Trabalho
Os efeitos econômicos da homofobia começam com o
assédio na escola, que diminui o potencial da educação. Posteriormente, o
preconceito no ambiente de trabalho leva a menores salários e produtividade.
De acordo com Badgett, homens gays dos Estados Unidos
e da Europa ganham em média 11% menos do que homens heterossexuais, controladas
todas as outras variáveis.
Não está claro até que ponto isso é resultado da
discriminação direta ou das expectativas mais baixas que eles próprios se
colocam por causa da sociedade.
Já a pressão para se casar faz com que uma mulher
lésbica tenha mais incentivos para parar de trabalhar, por exemplo. Todos esses
fatores contribuem para uma menor participação na força de trabalho, o que
também prejudica o crescimento econômico.
Além de terem uma chance maior de contrair o vírus
HIV, homens gays apresentam uma taxa de depressão 6
a 12 vezes maior que a da população em geral. Já a porcentagem dos que
apresentam pensamentos suicidas é 7 a 14 vezes maior do que a média nos países
em desenvolvimento.
Com base nestas diferenças, o Banco Mundial concluiu
que o custo econômico da homofobia no campo da saúde na Índia ficou entre US$
712 milhões e US$ 23,1 bilhões só em 2012.
Em muitos sentidos, o impacto é global: de acordo com
Luiz Loures, diretor-executivo do programa de Aids das
Nações Unidas, apenas 0,2% dos recursos contra a Aids tem como foco homens que
fazem sexo com homens, apesar deles serem os mais afetados pela epidemia.
Um empréstimo de US$ 90 milhões do Banco Mundial para
Uganda foi suspenso depois daaprovação de uma lei que torna a
homossexualidade crime. Para Loures, esse tipo de legislação é um desastre
do ponto de vista da saúde pública:
"O risco maior é a exclusão. O medo não combina
com a busca por saúde, por teste, por tratamento. Milhões de pessoas foram
salvas por causa dos homossexuais e suas famílias que foram os primeiros a se
mobilizarem. Quando uma dessas pessoas é obrigada a se esconder, isso afeta
nossa possibilidade de lutar contra essa epidemia até o fim."
Futuro
Outros impactos econômicos da homofobia são reais, mas
ainda mais difíceis de medir. A receptividade de um país para homossexuais pode
afetar seu potencial para o turismo ou para a atração de trabalhadores
qualificados, por exemplo.
Até Jim Kim reconheceu que o tema enfrentou
resistência dentro do próprio Banco Mundial, mas como lembrou Amy Lind,
professora de estudos de gênero na Universidade de Cinccinati, há anos de
estudos do movimento LGBT que podem contribuir para o trabalho de instituições
como o Banco Mundial:
"Precisamos perceber que ainda estamos usando
modelos tradicionais de família e de sexualidade nos nossos modelos de política
pública para o mundo em desenvolvimento. O debate sobre a homofobia deve ser
levado ao mainstream porque é uma questão do mainstream."
Imagem:
stophomofobia.wordpress.com
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