segunda-feira, 16 de junho de 2014

Holocausto Brasileiro. A história do hospital que torturou 60 mil gays, negros, grávidas, entre outros inocentes.





Há pouco tempo foi lançado o livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, que tem feito muito sucesso e recebido boas críticas de importantes revistas, sites e programas de televisão. O livro conta sobre o Hospital Colônia de Barbacena, o maior hospital psiquiátrico do século XX, entrevistando pessoas que estiveram dentro dos muros. Mesmo gritando pelos mini-documentários já lançados, e com suas gravuras estampando a dor, permaneceram calados.
Fundado em 1903, na cidade das rosas, Barbacena, o Hospital Colônia recebia constantemente trens com um número consideravelmente pequeno próximo ao seu lançamento, pois era uma instituição paga que era movida por lucros. Foi construído para 200 leitos, por mais que fosse uma área grande.
Logo, o hospital se tornou público, ou seja, não visava lucro e, portanto, recebia qualquer tipo de paciente, inclusive os mais miseráveis. E assim, o Colônia se tornou um inferno em vida, não só para os pacientes, mas também para os que trabalhavam no local. Em 1961, cerca de 5 mil pacientes eram constantemente internados no HCB (exatamente 4.800 pessoas a mais do que o hospital foi construído para comportar). Com as mortes, novos pacientes entravam. E foi exatamente isso que levou a morte de 60.000 brasileiros no manicômio.
O ambiente do hospital era hostil, tinha cheiro de urina, as pessoas ficavam nuas pela falta de roupas ou vestiam o “azulão”(uniforme do hospital para pacientes), não possuíam água portável, dormiam em montes de palha – pela falta de camas e pela praticidade que isso dava aos funcionários, por não ter que limpar os colchões sujos de urina e fezes. O chão fora da estrutura era de terra, os pacientes ficavam em pavilhões.
Nem sempre os pacientes tinham distúrbios mentais para estarem presentes em um local como esse. 70% deles não tinha um diagnóstico preciso, na verdade. Eram eles homossexuais, meninas que ficaram grávidas antes da época considerada “adequada”, tímidos, mulheres que não aceitavam a traição, negros, filhos bastardos, meninas estupradas, mendigos, pessoas que iam contra a política, pessoas sem documentos ou indesejados no geral. Esses eram praticamente torturados pela comida ruim que recebiam, pelo tratamento com remédios impróprios, excesso de eletrochoque… E a cada “trem doido”, expressão que marcava a chegada do trem com pacientes de todo o país, mais inocentes eram colocados num ambiente inabitável.
Um grande marco do hospital foi a venda de corpos para universidades, entre elas as famosas, como a USP e a Unicamp. Como muitos deles perdiam a identidade ao entrar no hospital e passavam a ser indigentes, não fazia muito sentido enterrá-los de forma digna na época, então, para ajudar a manter o centro de tortura brasileiro, os vendiam. Os corpos ficavam expostos aos outros pacientes até serem vendidos e, quando não eram vendidos a tempo de não entrar em estado grave de putrefação, eram colocados em ácido e vendiam apenas os ossos.
Na obra de Daniela Arbex também encontramos o atual estado do Colônia, que, na verdade, se tornou um centro psiquiátrico digno, o CAPS. O Centro de Apoio Psicossocial tem como intuito propor atividades para os pacientes, como artesanatos, pinturas, aulas de computação e afins. São mantidos pelo dinheiro público e tem a ajuda da venda dos trabalhos manuais dos pacientes, que são vendidos no próprio CAPS.
Para quem tem interesse em entender um pouco mais sobre o preconceito e a violência na história, não apenas dos homossexuais, mas de toda uma sociedade, essa é uma boa indicação de leitura.






http://sapatomica.com/blog/2014/03/22/holocausto-brasileiro-a-historia-do-hospital-que-torturou-60-mil-gays-negros-gravidas-entre-outros-inocentes/

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pastor americano pode ser julgado por perseguição a gays na Uganda






Ativistas garantem que o Scott Lively é a favor da pena de morte a homossexuais
Um grupo de direitos dos homossexuais de Uganda entrou com uma ação contra o reverendo americano Scott Lively o acusando de apoiar as políticas anti-gay que o governo do país africano está tentando aprovar.
A associação de minorias sexuais da Uganda afirma que o pastor, enquanto esteve no país, perseguiu homossexuais e promoveu uma conferência em 2009 que fez surgir um projeto rigoroso contra a homossexualidade chegando a prever a pena de morte para gays.
A ação foi acatada pela justiça de Massachusetts que pode julgar e condenar o evangélico por crimes contra os direitos humanos.
Em sua defesa, o pastor diz que não tem nenhuma ligação com a proposta do governo de Uganda e que suas declarações sempre foram a favor da família tradicional e estão garantidas pela liberdade de expressão.
Logo que começou a ser acusado pelos ativistas o reverendo, que trabalhou por muitos anos na África, se defendeu dizendo que tudo não passa de falsas acusações. “Nunca fiz isso [apoiar a prisão e a morte de gays]. Essa é uma falsa afirmação por parte dos gays e aliados da mídia. Nunca, jamais, estive a favor da pena de morte para isso”.
Lively acredita que a Uganda está “indo muito longe” ao tomar essas medidas e por isso não os apoia. Contudo ele sabe que a intenção do governo é proteger a sociedade e impedir que ela seja ‘homossexualizada’. “Eles estão preservando a liberdade religiosa e os valores da família”.
Ao tomar conhecimento da decisão da justiça americana, Judge Michael Ponsor, autor da ação contra o pastor, comemorou e disse que essa é uma vitória significativa para os direitos humanos. Com informações DW e Bosto Herald.

terça-feira, 10 de junho de 2014

África do Sul vira principal refúgio para gays perseguidos no continente



Cercada por países avessos aos direitos gays, a África do Sul tornou-se o refúgio para muitos homossexuais africanos. Com uma Constituição que reconhece o casamento gay, pune a discriminação e protege o direito dos refugiados, o país é o destino mais procurado pelos chamados "asilados sexuais" do continente. Mas apesar da legislação liberal, os gays ainda sofrem com episíodios de homofobia e com o preconceito contra imigrantes no país.

http://www.bbc.co.uk/portuguese

Segundo a agência da ONU para refugiados (Acnur), a África do Sul tornou-se o principal destino dos "asilados sexuais" do continente. Só em 2013, a África do Sul recebeu mais de 290 mil refugiados, boa parte deles homossexuais, o que fez do país o líder em pedidos de asilo e refúgio pelo quarto ano consecutivo, segund a Acnur.
O cerco a homossexuais em países como Nigéria e Uganda faz com que muitos imigrantes busquem refúgio na "legislação progressista" sul-africana.
Em documento oficial do Departamento de Assuntos Internos sul-africano, o diretor-geral Mkuseli Apleni diz que as 72 entradas por terra ajudam a explicar porque o país entrou na rota de fuga de quem foge da homofobia no continente.
Na prática, porém, a perseguição e as dificuldades vividas por esses "asilados sexuais" não necessariamente acabam quando eles chegam à nação de Nelson Mandela.
"Existe uma desconexão com a forma que o país se porta internacionalmente e o modo como os refugiados sexuais são tratados aqui", afirma Yellavarne Moodley, pesquisador da Unidade dos Direitos de Refugiados da Universidade da Cidade do Cabo (UCT, na sigla em inglês).
Segundo o estudo, a burocracia para receber o status de asilo e preconceito por parte dos sul-africanos estão entre alguns dos problemas enfrentados.
Criminalização da homossexualidade
Para Moodley, o número de asilados no país deve se tornar ainda maior nos próximos anos devido à criminalização da homossexualidade que vem se tornando cada vez mais comum no continente. Somente neste ano, duas nações entraram para a lista dos países onde ser gay é proibido.
Em janeiro, a Nigéria aprovou uma legislação que torna o relacionamento gay um crime severo que prevê uma sentença de 14 anos atrás das grades. Em março, o presidente da Uganda, Yoweri Museveni, decidiu punir com prisão perpétua quem tem relações com pessoas de mesmo sexo.
De acordo com informações da Anistia Internacional, relações gays são consideradas crime em 38 das 54 nações africanas.
Desemprego e preconceito
Apesar de ser sinônimo de esperança para homossexuais ao redor da África, o país sul-africano possui uma realidade um pouco mais amarga do que as aparências levam a acreditar.
O advogado Guillain Koko, que oferece apoio e consultoria para refugiados gays na Cidade do Cabo, afirma que a Constituição liberal e inclusiva nem sempre reflete o comportamento da população.
"Eles (refugiados) sofrem preconceito, são alvos de ataques xenofóbicos e muitas vezes não encontram emprego", acusa quem afirma ter recebido em seu escritório pelo menos cem pessoas somente no ano passado.
Segundo pesquisa realizada pela organização Passop (Pessoas contra o Sofrimento, a Opressão e a Pobreza), 90% dos refugiados sexuais não conseguem encontrar emprego fixo no país. O relatório indica que a principal razão é discriminação e 51% dos entrevistados relatou que a falta de documentação também dificulta a procura por trabalho. "Muitos aguardam o status de asilado há mais de quatro anos", reclama Koko.
Em depoimento oficial, o Departamento de Assuntos Internos da África do Sul afirmou estar revendo seus procedimentos e tomando medidas para processar os pedidos de asilo de forma mais "eficiente e justa".
A ministra do Departamento de Assuntos Internos Nalendi Pandor aposta em parcerias com organizações internacionais, incluindo o ACNUR: "É importante para nós que os refugiados continuem a ver a África do Sul como um país que respeita as diferenças e representa esperança para um futuro melhor".
A realidade de quem foge
"Entre morte e prisão, viver com preconceito acaba se tornando o menor dos males". É essa a visão de um refugiado congolês quando questionado pela BBC Brasil sobre o porquê de ter escolhido a África do Sul como refúgio. Marc Kadima acabou emprestando nome e rosto ao dilema vivênciado por milhares de gays africanos.
Durante oito meses, o congolense de 25 anos enfrentou chuva, fome e frio. Em busca de liberdade, Kadima percorreu o sul do continente a pé e se escondeu em caminhões de carga até chegar a terras sul-africanas. "Eu sabia que iria morrer se continuasse no Congo", conta ele, que foi perseguido pelos próprios amigos e familiares. "Um grupo de conhecidos me levou para a rua e o espancamento começou. Consegui correr e fugi sem olhar para trás", relembra.
Apesar das dificuldades de adaptação que experimentou na África do Sul, onde vive há cinco anos, Kadima é grato pelo país que o recebeu. "Ainda existe homofobia no país e eu sofra por isso, eu não corro mais o risco de ser preso ou assassinado só por ser gay", diz.
Tiwonge Chimbalanga concorda. "Eu escuto insultos na rua, mas não estou mais presa", comemora ela, que há cinco anos se encontrava atrás das grades. Em 2009, o governo do Malauí condenou a transexual a 14 anos de prisão e trabalho forçado como punição por ter realizado uma festa tradicional de noivado com um homem.
Depois de quase um ano encarcerada, onde afirma ter sofrido torturas físicas e humilhações diárias, a transexual de 24 anos foi libertada pelas as autoridades do Malauí, que acabaram cedendo à pressão da comunidade internacional. "Aproveitei a atenção da mídia e pedi asilo para a África do Sul pelo fato de ser um país livre e próximo da minha aldeia natal. Eu sabia que se continuasse no Malauí acabaria sendo morta", explica.
O sofrimento de Tiwonge não é um caso isolado. Em relatório publicado em junho de 2013, a Anistia Internacional declara que ataques homofóbicos têm atingido níveis perigosos na África e que as autoridades vêm adotando cada vez mais novas leis para criminalizar a relação entre pessoas do mesmo sexo.
"Essa abordagem passa a ideia 'tóxica' de que pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais são criminosas", diz o documento da Anistia Internacional titulado "Fazer do amor um crime".
Imagens: África do Sul é vista como refúgio por homossexuais perseguidos em países africanos.
Uganda foi um dos países africanos que aprovou leis impondo penas duras contra gays


domingo, 8 de junho de 2014

Violência contra homossexuais



Drauzio Varella

A homossexualidade é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.
Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural.
Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (ou Deus) criou órgãos sexuais para que os seres humanos procriassem; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).
Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?
Se a homossexualidade fosse apenas perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de espécies de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.
Em virtualmente todas as espécies de pássaros, em alguma fase da vida, ocorrem interações homossexuais que envolvem contato genital, que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.
Comportamento homossexual envolvendo fêmeas e machos foi documentado em pelo menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.
Relacionamento homossexual entre primatas não humanos está fartamente documentado na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no Journal of Animal Behaviour um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.
Masturbação mútua e penetração anal fazem parte do repertório sexual de todos os primatas não humanos já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.
Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas rigorosas.
Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela simples existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por capricho individual. Quer dizer, num belo dia pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas como sou sem vergonha prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.
Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.
A sexualidade não admite opções, simplesmente é. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.
Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países fazem com o racismo.
Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais na vizinhança, que procurem dentro das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal costumam aceitar a alheia com respeito e naturalidade.
Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.
Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser fascistas a ponto de pretender impor sua vontade aos que não pensam como eles.
Afinal, caro leitor, a menos que seus dias sejam atormentados por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu trinta anos?

http://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-homossexuais/