Há pouco tempo foi lançado o livro
“Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, que tem feito muito sucesso e
recebido boas críticas de importantes revistas, sites e programas de televisão.
O livro conta sobre o Hospital Colônia de Barbacena, o maior hospital
psiquiátrico do século XX, entrevistando pessoas que estiveram dentro dos
muros. Mesmo gritando pelos mini-documentários já lançados, e com suas gravuras
estampando a dor, permaneceram calados.
Fundado em 1903, na cidade das rosas,
Barbacena, o Hospital Colônia recebia constantemente trens com um número
consideravelmente pequeno próximo ao seu lançamento, pois era uma instituição
paga que era movida por lucros. Foi construído para 200 leitos, por mais que
fosse uma área grande.
Logo, o hospital se tornou público, ou
seja, não visava lucro e, portanto, recebia qualquer tipo de paciente,
inclusive os mais miseráveis. E assim, o Colônia se tornou um inferno em vida,
não só para os pacientes, mas também para os que trabalhavam no local. Em 1961,
cerca de 5 mil pacientes eram constantemente internados no HCB (exatamente
4.800 pessoas a mais do que o hospital foi construído para comportar). Com as mortes,
novos pacientes entravam. E foi exatamente isso que levou a morte de 60.000
brasileiros no manicômio.
O ambiente do hospital era hostil, tinha
cheiro de urina, as pessoas ficavam nuas pela falta de roupas ou vestiam o
“azulão”(uniforme do hospital para pacientes), não possuíam água portável,
dormiam em montes de palha – pela falta de camas e pela praticidade que isso
dava aos funcionários, por não ter que limpar os colchões sujos de urina e
fezes. O chão fora da estrutura era de terra, os pacientes ficavam em
pavilhões.
Nem sempre os pacientes tinham
distúrbios mentais para estarem presentes em um local como esse. 70% deles não
tinha um diagnóstico preciso, na verdade. Eram eles homossexuais, meninas que
ficaram grávidas antes da época considerada “adequada”, tímidos, mulheres que
não aceitavam a traição, negros, filhos bastardos, meninas estupradas,
mendigos, pessoas que iam contra a política, pessoas sem documentos ou
indesejados no geral. Esses eram praticamente torturados pela comida ruim que
recebiam, pelo tratamento com remédios impróprios, excesso de eletrochoque… E a
cada “trem doido”, expressão que marcava a chegada do trem com pacientes de
todo o país, mais inocentes eram colocados num ambiente inabitável.
Um grande marco do hospital foi a venda
de corpos para universidades, entre elas as famosas, como a USP e a Unicamp.
Como muitos deles perdiam a identidade ao entrar no hospital e passavam a ser
indigentes, não fazia muito sentido enterrá-los de forma digna na época, então,
para ajudar a manter o centro de tortura brasileiro, os vendiam. Os corpos
ficavam expostos aos outros pacientes até serem vendidos e, quando não eram
vendidos a tempo de não entrar em estado grave de putrefação, eram colocados em
ácido e vendiam apenas os ossos.
Na obra de Daniela Arbex também
encontramos o atual estado do Colônia, que, na verdade, se tornou um centro
psiquiátrico digno, o CAPS. O Centro de Apoio Psicossocial tem como intuito
propor atividades para os pacientes, como artesanatos, pinturas, aulas de
computação e afins. São mantidos pelo dinheiro público e tem a ajuda da venda
dos trabalhos manuais dos pacientes, que são vendidos no próprio CAPS.
Para quem tem interesse em entender um
pouco mais sobre o preconceito e a violência na história, não apenas dos homossexuais,
mas de toda uma sociedade, essa é uma boa indicação de leitura.
http://sapatomica.com/blog/2014/03/22/holocausto-brasileiro-a-historia-do-hospital-que-torturou-60-mil-gays-negros-gravidas-entre-outros-inocentes/
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