Segundo as
jovens, garçom de cantina italiana proibiu selinho e disse que conduta poderia
ofender outros clientes
São Paulo - O casal Maria Cecília Leite e Laura
Audi, ambas de 20 anos, se tornou em agosto mais uma vítima de homofobia em São
Paulo. Poucos dias depois que dois homens foram reprimidos em um restaurante da
Rua Augusta, na região central, sob o argumento de que aquele era um
"local de família", as duas jovens tiveram de ouvir a mesma frase de
um garçom quando se preparavam para almoçar.
O caso aconteceu no restaurante La Pasta
Gialla, no Itaim-Bibi, zona sul. As duas deram selinhos, como qualquer casal de
namorados, e estavam de mãos dadas quando o garçom as abordou e disse que as
pessoas que frequentavam o restaurante poderiam se ofender. "No início,
nós nem entendemos sobre o que ele estava falando. Perguntamos se algum cliente
havia reclamado e o garçom respondeu que não, mas que 'se ouviam comentários
sobre um casal homossexual'", diz Maria Cecília.
As duas decidiram ir embora mas, antes,
pediram pela gerente. Os garçons informaram que ela não se encontrava. Depois
de já ter ido embora, o casal resolveu voltar para anotar o nome do garçom e,
ao chegar lá, se deparou com a gerente.
Segundo Maria Cecília e Laura, a gerente
também se mostrou indiferente à situação, disse que "cada um tem a sua
opinião" e que "as pessoas se incomodam com a presença de
homossexuais". Ainda, que se elas tivessem alguma reclamação era para
enviar diretamente para o e-mail do dono da rede de restaurantes, Sérgio Arno.
"O que nos incomodou foi que a
discriminação veio debaixo de um discurso educado e natural, como se fosse
óbvio que estávamos erradas", afirma Maria Cecília. Ela e Laura voltaram
para casa muito abaladas, segundo relato da mãe de Maria Cecília, Rita de
Oliveira. "O que mais me chamou a atenção foi a tristeza e a revolta. Elas
estavam fragilizadas, chorando muito. Eu via a sensação de dor nos olhos delas
e disse: 'lavem o rosto que não vamos ficar aqui chorando'", relata Rita.
"Foi horrível. Você não sai no sábado para almoçar e pensa que vai acabar
assim", explica Laura.
Ação
Com a ajuda da mãe de Maria Cecília e de
dois advogados, elas fizeram uma denúncia de conduta homofóbica na Secretaria
de Justiça, uma queixa-crime contra o garçom e a gerente por injúria e pediram
a instauração de um inquérito policial. "Esse também é um tipo de
violência - não é físico, mas é moral", diz o advogado criminal do casal,
Marcelo Feller. A advogada cível, Patrícia Brandão, reconheceu a importância de
Rita no caso. "Poucos casos de homofobia têm um apoio familiar tão
intenso. Foi uma surpresa boa deste caso, porque é raro".
A rede de restaurantes diz ter recebido
a informação com surpresa. "Em 13 anos de La Pasta Gialla, nunca ouvimos
falar de um caso sequer parecido", disse, em nota. "Com uma política
sempre pautada pelo profissionalismo, ética e respeito às diversidades, o
posicionamento transmitido para todos os restaurantes La Pasta Gialla é que é
vetado qualquer tipo de discriminação contra cor, raça e orientação sexual.
Essa política é amplamente disseminada
por todas as lojas, que inclusive, empregam profissionais homossexuais." O
restaurante ainda disse que, embora não tenha recebido notificação judicial,
está apurando o caso com o máximo rigor.
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