Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
A
homossexualidade na Idade Média, é uma matéria de complexo estudo, embora os
académicos e os estudiosos do "mesmo sexo" eram comuns nas culturas
árabe medieval, como comprovado nas poesias deixadas sobre o amor do mesmo
sexo.
De acordo com
John Boswell, autor de Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade,1
houve comunidades monásticas cristãs de pessoas do mesmo sexo e de outras
ordens religiosas, em que a homossexualidade prosperou. De acordo com Chauncey
et al. (1989), o livro "ofereceu uma interpretação revolucionária da
tradição ocidental, afirmando que a Igreja Católica Romana não havia condenado
os gays ao longo de sua história, e, pelo menos até o século
XII, não tinha evidenciada nenhuma preocupação especial sobre a
homossexualidade ou o amor celebrado entre homens."
Boswell foi
também o autor de Same-Sex Unions in Pre-Modern Europe (New York:
Villard, 1994) no qual ele argumenta que a liturgia adelphopoiesis evidência de
que a atitude da igreja cristã em relação à homossexualidade tem mudado ao
longo do tempo, e os cristãos da altura, na verdade aceitavam as relações
homossexuais2
.
Alguns críticos,
nomeadamente RW Southern, refutam os achados de
Boswell e o rigor académico. O seu trabalho atraiu grande controvérsia, pois
foi visto por muitos como apenas uma tentativa de Boswell justificar a sua
homossexualidade e a fé católica romana. Por exemplo, aponta RW Southern, que o
homossexualismo tinha sido condenado extensivamente por líderes religiosos e
estudiosos medievais bem antes do século XII, apontando para os livros de
punições que eram comuns na sociedade medieval, muitos dos quais incluem a
homossexualidade como um dos pecados graves.3
A história de
relações homossexuais entre mulheres na Idade Média é extremamente difícil de
estudar, mas não há nenhuma dúvida da sua existência. Alguma legislação contra
as relações lésbicas podem ser invocados para o período, principalmente
envolvendo o uso de "instrumentos", por outras palavras, dildos.4
História
Durante a Idade
Média a vontade de Deus era o argumento para todas as acções, inclusive em situações
cruéis. A ascensão do Cristianismo em Roma reverteu os valores da época, caçou
hereges e perseguiu os diferentes. O Papa passou a ter um poder divino sobre a terra, dividindo com
os imperadores o governo das nações. O conhecimento ficou restrito aos nobres e
aos clérigos.
A religião de
Roma prosseguiu. Diversos são os relatos sobre casos de homossexualidade dentro
das religiões e Papas homossexuais fizeram parte da história da Igreja. Em
1123, foi declarada a nulidade de casamentos de padres.5
Inquisição
O papa
Gregório instituiu o direito ao Tribunal do Santo Ofício, em 1231, e
ordenou o combate às mazelas difundidas em toda a Europa. Os homossexuais foram
tão perseguidos que, somente no Brasil, já no século XVII, foram registadas
4.419 denúncias de sodomia, dos quais, 30 foram enviados à Metrópole e
condenados à fogueira. Muitos fidalgos portugueses fugiam para a então colónia
em busca de sossego da Inquisição.
A sodomia era
considerada a pior das heresias. Para homossexuais, a idade justificava a pena.
Após confissões obtidas na base da tortura, o indivíduo abaixo de 15 anos era
recluso por três meses. Acima dessa idade, deveria ir preso e posteriormente
pagar multa. Os adultos deveriam pagar multas, caso contrário tinham os seus
genitais amarrados e deveriam andar nus pela cidade, serem açoitados e depois
expulsos. Caso fossem maiores de 33 anos, o acusado seria julgado, sem direito
a defesa e, caso condenado, morto em fogueira e seus bens confiscados. Apesar
de todo os esforços, nesse mesmo período existem relatos de pelo menos dois
papas homossexuais: Papa Paulo II e Papa
Alexandre VI.5
Península
Ibérica ( al-Andalus)
A
homossexualidade não existia na Idade Média
Ibérica. Os cristãos condenavam qualquer prática sexual não-procriativa,
sendo que o acto não-procriativo, quando os agentes eram um homem e uma mulher,
muitas vezes recebia penas mais severas que entre dois homens (a sodomia)6
. Não havia, portanto, uma identidade homossexual. Quando dois homens mantinham
um relacionamento íntimo não sexual, eram, pelo contrário, vistos como dotados
de honra e valores.
História
Na região conhecida
como al-Andalus,
governada por muçulmanos, os não cristãos que praticavam a sodomia
abertamente, tendo relacionamentos estáveis e intercurso sexual com parceiros
do mesmo sexo, eram a elite intelectual e política da época. Abderramão
III, Aláqueme II, Hisham II,
e al-Mutamid
mantinham haréns masculinos. As memórias de Badis, o ultimo rei Zirid de
Granada, faz inúmeras referências à contratação de prostitutos, que além de
cobrarem valores exorbitantes pelos seus serviços, mantinham como clientela a
mais alta classe da região.7
À despeito das inúmeras críticas dos cristãos, a sodomia nunca foi claramente
condenada entre árabes e judeus medievais. No último século de dominação
islâmica na Espanha, a sodomia era inclusive vista como uma prática de
resistência ao cristianismo que se impunha cruelmente, destruindo escolas,
bibliotecas, sinagogas e mesquitas da região. A Idade do Ouro do ocultismo também
aconteceu em Al-Andalus, na Idade Média Ibérica. Os místicos, principalmente
judeus e muçulmanos, estudavam, desenvolviam e ensinavam a Cabala e a Alquimia. A Ordem dos Templários teve uma presença
significativa nessa região, onde são encontradas a maioria dos capítulos da
Ordem. Principalmente entre os místicos muçulmanos e judeus o relacionamento
entre dois homens era bastante comum e visto com naturalidade. Os cristãos
referiam-se a esses místicos como escandalosos e depois de inúmeras acusações,
terminaram por decretar a pena de morte aos sodomitas. Alguns grupos se
mantiveram ocultos em confrarias e irmandades secretas, consta inclusive a
presença de cristãos nesses grupos, que realizavam uma espécie de culto à Virgem
Maria8
e podem ter relações com a Ordem dos Templários9
.
O casal mais
famoso desse período foi Juan II e o seu amante Álvaro
de Luna. O assassinato de Álvaro de Luna pelos cristãos se tornou no século
XVII um evento bastante representativo da repressão à sodomia. Granada era vista
como um lugar frequentado predominantemente por intelectuais e artistas
abertamente sodomitas. Os cristãos acusavam os judeus de terem introduzido a
sodomia na Espanha. 10
A relação entre os judeus sefaraditas de Granada e a sodomia ainda é claramente
vista em letras de canções tradicionais da época.11
Federico García Lorca, nascido em Granada e tido
como o maior poeta da Espanha e um dos maiores escritores do mundo, homossexual
assumido que foi assassinado pelos franquistas na Guerra Civil Espanhola12
13
. , fez inúmeras referências à Granada sodomita nos seus escritos. Por se
tratar de uma história contada pela minoria sobrevivente ao massacre provocado
pela cristandade ibérica, os estudos sobre a homossexualidade nesse período
ainda são insuficientes para determinar com mais clareza a vida quotidiana em
Al-Andalus.
O lesbianismo
era comum, sobretudo nos haréns, embora se tratasse de relações mantidas discretamente
por serem passíveis de utilização em intriga política.14
Algumas mulheres privilegiadas do Al-Andaluz tinham acesso à educação; existem
antologias modernas de poesia escrita por mulheres,15
16
em que o amor entre mulheres aparece tratado com naturalidade.17
A
homossexualidade passa a ser categorizada e referida como anomalia a partir do século
XIX, por influência do pensamento cristão na formação de cientistas e
académicos da época. Até mesmo os pensadores muçulmanos e judeus posteriores
acabam sofrendo influência ideológica do cristianismo, passando a condenar
veementemente a homossexualidade, sem saber que muitos místicos e estudiosos
que sistematizaram seus rituais e textos sagrados eram abertamente
homossexuais.
Poesia homo
erótica
Por entre o
esplendor medieval da cultura judaica
descobriu-se, graças aos estudos de Jefim Schirmann e Norman Roth, que o homoerotismo e a
homossexualidade tiveram grande importância na sociedade judaica da época. De
facto, na cultura cristã e entre os séculos XIII e XVII, associava-se o
judaísmo à perversão sexual e à homossexualidade, sobre o que ficou testemunho
na poesia satírica da época.18
Os autores da
poesia homoerótica hispanojudaica, que declaram o seu amor tanto a rapazes como
a homens adultos, chegavam a ser importantes líderes das suas comunidades ou rabis, como é o
caso de Ibn
Gabirol, Samuel ha-Naguid, Moisés Ibn Ezra e Judah ha-Levi.18
Imagem: projeto5linguas.wordpress.com
Sem comentários:
Enviar um comentário